HAWAII – Baloo e Suki
- Noëlle Francois

- 28 de nov. de 2024
- 5 min de leitura
Atualizado: 7 de jan.

Não é segredo para ninguém que essa ideia de viajar para todos os cantos com nossa turma começou com o Scott. A curiosidade do pessoal sobre como os levamos em nossas aventuras foi tanta que acabou dando origem à página no Instagram: LESVOYAGEURS22.
Agora, imaginem a perplexidade da galera ao descobrir que Baloo e Suki estavam de malas prontas para o Havaí! Isso desencadeou uma avalanche de perguntas, como: ‘Eles vão precisar fazer quarentena?’ Então, preparem-se, porque vou contar para vocês a verdadeira epopeia que foi organizar todo esse processo.
Vamos começar pelos princípios básicos das viagens internacionais com pets. Primeiro de tudo, o seu bichinho precisa passar por um exame de sangue, conhecido como sorologia, para comprovar a ausência de raiva. Esse documento só precisa ser emitido uma vez e tem validade vitalícia, desde que você seja um super-herói e nunca perca a data de vencimento das vacinas. Um simples atraso e é preciso recomeçar tudo do zero. O microchip é outro item indispensável — basicamente o RG do seu pet. Além disso, para cada viagem, você precisa obter um certificado sanitário das autoridades brasileiras. Pronto! Agora é só… arrumar as malas? Quase.
O Havaí tem regras próprias, totalmente focadas em proteger seu delicado ecossistema de flora e fauna de qualquer praga que possa ameaçar esse arquipélago paradisíaco. Como era de se imaginar, eles têm uma cartilha detalhando cada passo do processo. Quando eu me deparei com ela pela primeira vez, confesso, fiquei intimidada. Na primeira vez que li não entendi absolutamente nada. Na segunda, comecei a captar alguma coisa. Foram necessárias várias leituras para finalmente entender o que precisava ser feito. Confesso, o desânimo bateu forte.
A saga começa com a exigência de uma sorologia só para eles e com válida de 12 meses, então lá foram Baloo e Suki, para a coleta de sangue. Agora, como eles se comportam como dois tigrinhos selvagens (ou quem sabe leões indomáveis), foi preciso usar anestesia inalatória para deixá-los calminhos por alguns minutos. Porque, sem isso, nem o veterinário mais corajoso do mundo teria a chance de chegar perto deles!
Com os resultados em mãos, o laboratório responsável precisa realizar os tramites para garantir que os dois sejam oficialmente registrados no sistema do Ministério da Agricultura de Honolulu como ‘sorologia negativa’. Ou seja, sem raiva e prontos para o paraíso! Porque, claro, nada no Havaí é simples — até os gatos precisam de aprovação digital para poder relaxar na praia.
Enquanto isso, eu corro por fora, e como todo o processo é uma verdadeira maratona, preciso começar com pelo menos oito meses de antecedência. A primeira missão: como vamos entrar pela Big Island, e lá não tem um departamento sanitário no aeroporto, preciso contratar um veterinário local para ser o responsável pela nossa chegada triunfal, garantindo que Baloo e Suki estão aptos a desembarcar nesse paraíso. Com essa etapa vencida, começa a coleta de documentos – e quando digo ‘coleta’, imaginem um caminhão de papéis! Certificado original das vacinas contra raiva dos últimos quatro anos, passagens aéreas, cópia do meu passaporte, cópia do teste sorológico, formulários de todos os tipos e cores e por ai vai… a pilha de documentos não parava de crescer.
Somando tudo, acho que ultrapassei umas cem folhas. E, claro, como com esse pessoal tudo tem que ser diferente: não posso usar os Correios brasileiros, não! A papelada tem que chegar via FedEx, com toda a pompa. Lá vou eu enfrentar mais uma etapa burocrática. Com eles, nada de envios casuais, você tem que ser cadastrado e ter uma conta. Mais uma camada de formalidade! Mas, finalmente, tudo pronto: em menos de 48 horas, as autoridades de Honolulu já tinham em mãos minha montanha de documentos.
Após a verificação daquele mundo de papéis que enviei, finalmente me é concedida a permissão para prosseguir com o pagamento e emitir o certificado que vai garantir aos dois o direito de voar. Mas tem uma pegadinha: esse certificado só vale para o dia exato da passagem comprada. Se houver qualquer alteração, começo tudo do zero! As insanidades das exigências não param por aí: o pagamento precisa ser feito via cheque administrativo.
Como não tenho conta nos Estados Unidos, a solução é usar cartão de crédito. Simples, né? Errado! Preciso escrever uma declaração de próprio punho com meus dados, autorizando o débito em meu cartão. Mas aí vem a cereja do bolo que quase me deu um colapso nervoso: eles só aceitam essa autorização via FAX. Isso mesmo, FAX! Alguém aqui ainda lembra o que é isso? Onde eu ia encontrar essa relíquia de museu? Revirei a internet de cabeça para baixo e nada. Por fim, descobri que existe um aplicativo de fax virtual no celular. Sem comentários!
Achou que minha novela mexicana tinha acabado? NADA DISSO!
Perto do embarque, lá vamos nós para mais uma rodada: uma visita ao veterinário para garantir que os dois estão em boa forma. Só depois disso é que podemos solicitar a emissão dos certificados sanitários junto às autoridades brasileiras. Sem esses papéis, não temos permissão para deixar a terra do samba, do futebol… mais burocracia, claro!
Uma semana antes do embarque, mais uma visitinha ao consultório. Desta vez, para garantir outro certificado confirmando que eles foram devidamente tratados contra parasitas internos, além dos tradicionais tratamentos anti-pulgas e carrapatos. Baloo encara de boa, Suki nunca perde a oportunidade de proferir umas palavras de desafeto ao dr Denis, ela precisa deixar bem claro sua insatisfação, porém tudo sob controle… por enquanto.
Finalmente, o tão esperado Dia D chega! E, junto com ele, começa o festival de estresse interno. Nada pode dar errado! Cada papel, cada detalhe da interminável lista de exigências tem que estar impecável. Porque, sejamos sinceros, esquecer qualquer coisa nessa altura do campeonato seria um desastre de proporções épicas.
A atendente da companhia aérea, apesar de muito simpática, não perdia a chance de nos dar uns sustinhos de vez em quando. Enquanto analisa tudo, vai gerando mais documento. Mas, enfim, após a JORNADA ADMINISTRATIVA INFERNAL, os bichanos estavam oficialmente aprovados para embarcar rumo ao Havaí. Ufa, missão quase impossível cumprida!
Achou que agora vem o final feliz? Que nada! Lembra do veterinário havaiano que contratei lá no começo dessa saga? Pois é, ele irá nos recepcionar na chegada. Só ele tem o poder de nos conceder o tão esperado ‘alvará de soltura’. Sem isso, nem humanos nem bichanos podem pisar em solo hula-hula. Agora, imagine: depois de infinitas horas de voo, ele resolve nos barrar? Seria a reviravolta mais cruel da história!
Se você está achando esse texto longo, imagina meus dias organizando tudo isso! Parecia uma missão sem fim. Mas resolvi adotar um olhar mais filosófico… A vida é feita de desafios, certo? Ou pelo menos é isso que eu continuava repetindo para me convencer! Afinal, cada um se ilude como pode.
A veterinária estava nos aguardando no aeroporto, seu consultório portátil era, digamos, um tanto quanto inusitado: uma minúscula tenda de acampamento montada bem no meio da ala de desembarque. Um verdadeiro show! Um gato por vez entra na ‘cabana’, microchip verificado, documentos lidos com uma atenção de fazer inveja a qualquer auditor, e depois chegou minha vez de brilhar: meu autógrafo alguns termos. Nem sei o que estava escrito — só fui distribuindo assinaturas como se minha liberdade dependesse disso. E talvez dependesse mesmo!
Finalmente, o tão esperado sinal verde: Baloo e Suki estão liberados para surfar e dançar hula-hula no Havaí!
Agora me digam, depois desse calvário, alguém aí se anima para levar seus bichinhos para o Havaí?







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