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DEVOÇÃO CANINA - NEW YORK

  • Foto do escritor: Noëlle Francois
    Noëlle Francois
  • 3 de jan.
  • 5 min de leitura

Atualizado: 18 de jul.


DEVOCÃO CANINA

A frase “o cão é o melhor amigo do homem” reflete uma conexão profunda, construída na lealdade, com companheirismo e amor incondicional. Em uma de minhas viagens à Nova Iorque, aprendi que essa definição, por mais bonita que seja, transcende a grandiosidade do que eles fazem por nós. Foi lá que descobri sobre os cães de busca, de resgate e apoio emocional. Eles transformam nossa visão sobre devoção canina ao desempenharem um papel heroico. Aqui, compartilho uma pequena parte da incrível atuação desses cães no World Trade Center após o atentado de 11 de setembro de 2001.

 

Quando relembramos esse fatídico dia, nossas mentes tendem a se fixar nas imagens devastadoras das torres em colapso. Poucos se recordam da importante contribuição desses excepcionais cães de resgate, que tiveram um papel essencial naquelas horas e dias sombrios que marcaram a história dos Estados Unidos.

 

Enquanto o mundo assistia perplexo o desdobrar dos acontecimentos do ataque, minuto após minuto, o Departamento de Gerenciamento de Emergências de Nova Iorque rapidamente mobilizou equipes de busca e resgate, requisitando também o apoio da FEMA – Agência Federal de Gerenciamento de Emergências. Muitos dos homens e mulheres treinados para esse tipo de missão haviam sucumbido no colapso das torres. Em resposta, equipes urbanas de busca de todo o país aguardavam ansiosas para serem chamadas.

 

Em poucas horas, a Força-Tarefa de Nova Jersey montava sua base de operações no Centro de Convenções Jacob Javits, em Manhattan. Entre as muitas demandas, a necessidade de cães de busca era urgente. Em resposta, 80 cães treinados pela FEMA se juntaram à missão.

 

O tempo era crucial para encontrar sobreviventes em condições extremas: montanhas de escombros instáveis, metais retorcidos, fumaça densa, poeira, risco de explosões secundárias, calor intenso, dificuldades para respirar etc. Os cães e seus treinadores trabalhavam incansavelmente em turnos de 12 horas. Por segurança, ficavam sem coleiras ou guias, que só eram usadas em situações críticas, como o risco de queda em vãos profundos.

 

A partir do momento que recebiam o comando de seus treinadores, eles mantinham o foco absoluto em suas tarefas, ignorando tudo ao redor, mesmo quando estavam em meio a barulhos intensos e um ambiente de estresse extremo.

 

Eles precisavam sentir o terreno para garantir estabilidade e equilíbrio, e por isso, não podiam ter qualquer proteção nas suas patas. A agilidade impressionante permitia que se deslocassem por lugares que os humanos jamais poderiam ir. Sempre que um cão demonstrava interesse em uma área, outro era chamado para confirmar o achado, garantindo a precisão do trabalho.

 

Os cães farejavam esperança em meio a tanta destruição.

 

Enquanto nós, humanos, enxergamos o 11 de setembro como um episódio sombrio e de profunda tristeza, para os cães de resgate aquilo era um grande playground de brincadeiras. Encontrar sobreviventes — ou os que não tiveram tanta sorte — era como um jogo de esconde-esconde com recompensas no final. Essa abordagem lúdica, que fazia parte de seus treinamentos, os mantinha motivados mesmo em meio ao caos.

 

Ao final de cada turno, a prioridade era cuidar dos heróis de quatro patas, tratados como as preciosidades que realmente são. Eles eram levados ao núcleo veterinário montado no Centro de Convenções Jacob Javits, passando por uma rotina de exames, tomando um banho para a descontaminação. Olhos e ouvidos eram limpados com cuidado para remover poeira e fuligem enquanto patas feridas recebiam curativos. O protocolo era: apenas após garantir o bem-estar de seus companheiros caninos, os treinadores podiam cuidar de si.

 

A Escola Oriental de Medicina de Nova Iorque também oferecia suporte, realizando massagens, sessões de acupuntura e quiropraxia, tanto nos cães quanto em seus treinadores. O suporte dado aos cães foi extraordinário. O cuidado excepcional refletia a gratidão e importância de seus trabalhos.


Durante os períodos de descanso, eles voltavam a ser apenas cães como os nossos, com o mesmo desejo de brincar, buscar seus brinquedos e receber carinho. Se por um lado, esses momentos garantiam a eles atenção extra dos trabalhadores, por outro, proporcionavam alívio às pessoas ao redor. Diante da gravidade da situação, bombeiros e socorristas de todos os estados desembarcavam em Nova Iorque, longe de suas famílias por longos períodos e enfrentando um cenário desolador. Aqueles momentos brincando ou acariciando os cães eram como uma recarga emocional, permitindo que voltassem às suas tarefas com mais força e motivação.

 

Com o passar das semanas, as buscas diminuíram, e a frustração começava a pesar sobre os cães, pois não tinham mais as “brincadeiras de encontrar coisas”. Para mantê-los motivados, os treinadores recorriam a artifícios criativos, como esconder membros das equipes nos escombros e simular um resgate.

 

Enquanto isso, outra equipe de heróis chegava para oferecer consolo: os cães de apoio emocional. Estima-se que cerca de 500 cães foram mobilizados para ajudar voluntários, trabalhadores, pessoas feridas e familiares a lidar com a dor e o trauma. Com o auxílio da Cruz Vermelha, Exército da Salvação e Sociedade Americana para Prevenção de Crueldade Animais, o Centro de Apoio às Famílias foi montado no Píer 94.

 

Lá estavam eles nos transportes que levavam os trabalhadores ao local do atentado. Ajudavam a aliviar a tensão e manter a sanidade para que todos encarassem mais um dia – afinal, imagine diariamente reviver os horrores.

 

Como muitos familiares precisavam registrar o desaparecimento de seus entes queridos, acariciar ou brincar com um cão era um alívio momentâneo, mas poderoso, para uma dor insuportável. Muitos encontraram nos olhares compreensivos e nas carícias um espaço seguro para extravasar a tristeza. Compartilhavam suas histórias e saudades com os cães, que ouviam em silêncio. Depois desse desabafo, as pessoas se sentiam leves e reconfortadas.           

 

Dada as circunstâncias, muitos não puderam fazer o devido velório. A forma de despedida simbólica foi um cerimonial com a entrega da bandeira americana e uma urna com cinzas dos escombros. Em mais esses momentos, familiares eram amparados com uma cauda abanando, olhares meigos, oferecendo consolo silencioso em um cenário onde muitas vezes palavras faltavam. Essas criaturas extraordinárias foram responsáveis pela recuperação emocional de muitas pessoas.

 

Um ano depois, foi realizada uma homenagem a todos que trabalharam bravamente e aos que se foram. A devoção canina mais uma vez se fez presente.

 

A magnitude do 11 de setembro deixou cicatrizes profundas, e evidenciou o poder transformador do amor e da compaixão. Em legado de devoção, esses heróis de quatro patas não apenas salvaram vidas; eles reacenderam a esperança. Trouxeram humanidade a um cenário desolador, ajudaram a nação a se reerguer e a encontrar forças para continuar. Não apenas fizeram parte da história — eles ajudaram a reescrevê-la.

 

A devoção e coragem de cada um deles permanecem como um testemunho do poder do vínculo entre homem e animal.




 Consultoria e Revisão: Arthur Barbosa

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