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ATACAMA

  • Foto do escritor: Noëlle Francois
    Noëlle Francois
  • 27 de jan.
  • 4 min de leitura

Atualizado: 18 de jul.


Atacama
Atacama

Enquanto o avião sobrevoa, já sinto o gostinho da aventura. As paisagens de beleza única parecem sussurrar: “Bem-vindos ao paraíso!”. Assim começa mais uma viagem com sucesso garantido. Deserto do Atacama, aí vamos nós!


E sem enrolação, chegamos em San Pedro já era noite. De malas despachadas, partimos direto para o centro em busca de um restaurante. O lugar parecia ter saído de um filme, com as construções de palha e barro em tons terrosos que combinavam perfeitamente com o cenário desértico. Tudo em uma atmosfera tão tranquila que era impossível não sentir a história e a cultura pulsando a cada esquina. Barriga cheia, finalmente depois de um dia inteiro de viagem, é hora de voltar para o hotel e dormir.



Com poucos dias nesse oásis, não há tempo a perder. Nossa primeira parada? As incríveis Lagunas Escondidas de Baltinache. Imagine só: lagos em azul turquesa e esmeralda brilhando no meio de um cenário árido. E o melhor? Entrar neles é como se transformar em uma boia humana. A concentração de sal é tão alta que afundar se torna missão impossível. Me lembro que quando saí, parecia que eu tinha passado a tarde inteira no spa mais hardcore do mundo com a pele pinicando e aquele "esfoliante" natural cobrindo tudo. Uma ducha doce e tudo certo para o próximo destino!


Laguna Chaxa
Laguna Chaxa

Falando em paisagens de tirar o fôlego, chegamos à Laguna Chaxa, no coração do Salar. Ali, flamingos elegantemente rosados roubam a cena. Esses pássaros parecem dançar no horizonte, equilibrando a natureza do lugar. É quase como se estivessem posando para um cartão-postal em tempo real.



O Atacama é mesmo o lugar dos extremos. Beleza, altitudes, temperaturas e, claro, emoções. No Valle de La Luna, com formações rochosas dignas de outro planeta, cada passo revela algo ainda mais fascinante. E o pôr do sol? É simplesmente mágico. As dunas ganham tons alaranjados e o céu parece pintado por mãos divinas.


Valle de la Luna
Valle de la Luna

Já o Valle de La Muerte, com suas formas esculpidas por milhões de anos de erosão, é tão surreal que dá para acreditar que algum artista renascentista passou por lá para os últimos retoques.

Valle de la Muerte
Valle de la Muerte
Geysers del Tatio
Geysers del Tatio

E como quem está no Atacama não pode dormir no ponto, madrugamos para ver os espetaculares Geysers del Tatio. Depois de uma hora de estrada – e muita ansiedade! –, chegamos. O frio congelante foi recompensado pelo espetáculo das enormes colunas de vapor saindo do chão, chegando a 85ºC e até 10 metros de altura. Claro que não perdi a chance de dar um mergulho em uma das termas naturais. A água quentinha, entre 30 e 40 graus, era o abraço perfeito para encarar o frio cortante do lado de fora.

           

Não seria justo deixar de fora as lhamas, verdadeiras divas do deserto. Conhecidas pelo temperamento "não me toques, não me reles", elas não hesitam em cuspir em quem ousa invadir seu espaço. Meu marido teve a infelicidade de experimentar isso, e posso garantir que não foi nada agradável, principalmente por causa do cheiro terrível.

        

Ah, e claro, como esquecer dele? O vulcão Licancabur, sempre majestoso, impondo sua presença como um guardião eterno do deserto. É impossível decidir o que é mais fenomenal nessa região. Por lá, a natureza não poupa esforços. O deserto é o retrato do extraordinário. 

       

Descarte ilegal de roupas Alto Hospício
Descarte ilegal de roupas Alto Hospício

Porém, em nossa estadia, conhecemos um lado nefasto que o oásis não é digno. Visualize esse mesmo lugar coberto por montanhas de roupas descartadas ilegalmente, transformando-o em um enorme lixão. Que tristeza! É o cenário da região de Alto Hospicio, onde todos os anos chegam 59 mil toneladas de roupas descartadas de países como os Estados Unidos, Europa e Ásia. Dessas, cerca de 40 mil toneladas não são vendidas e acabam abandonadas no deserto. A imagem verdadeira da nossa cultura do desperdício.


A indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo, perdendo apenas para a indústria do petróleo. Ela contribui para 8% das emissões globais de gases de efeito estufa e para 20% do desperdício de água no planeta – apenas para produzir uma única calça jeans, são necessários 7.500 litros de água. Dá para acreditar nesses números? E isso é apenas o começo. Os processos de lavagem e tingimento utilizam produtos químicos que são devastadores para os ecossistemas.


No deserto do Atacama, onde grande parte das roupas acaba, a maioria é feita de poliéster, um material que não é biodegradável, levando impressionantes 200 anos para se decompor. Durante o processo, liberam micro plásticos que entram na atmosfera e contaminam as faunas marinha e terrestre. Como se não bastasse, muitos desses descartes são queimados ilegalmente para reduzir as montanhas de roupas acumuladas. Os incêndios podem durar de dois a dez dias, liberando fumaça tóxica que afeta gravemente a saúde dos moradores locais com problemas cardiorrespiratórios e devastamento do meio ambiente.


Depois de 15 anos de descartes ininterruptos, o lixo de roupas em Alto Hospicio ocupa 300 hectares, o equivalente a 420 campos de futebol. É o símbolo causado pelo fenômeno conhecido como Fast Fashion, ou moda de baixo custo, que incentiva o consumo desenfreado de roupas quase que descartáveis. Hoje, o consumo cresceu 60%, e a maioria das peças é usada por um período incrivelmente curto. Se nada mudar, o Banco Mundial prevê que até 2050 serão gerados 3,4 bilhões de toneladas de resíduos têxteis.


Mas, nem tudo está perdido. Algumas iniciativas inspiradoras têm surgido para combater esse cenário. A EcoFibras, por exemplo, fabrica painéis de isolamento doméstico térmico e acústico utilizando resíduos têxteis, enquanto a Ecocitex transforma roupas descartadas em fios de vestuário, como lã sintética, que podem ser usadas na produção de novas peças.

           

Além disso, vários países estão aprovando leis que responsabilizam financeiramente os fabricantes pelo ciclo de vida completo de seus produtos, o que significa que as marcas terão que arcar com os custos ambientais e sociais de suas criações até o descarte final.

     

Parafraseando as sábias palavras do jornalista André Trigueiro: vamos usar a informação para tomar uma atitude, a hora de agir é agora. Cada decisão que tomamos – desde a compra de uma roupa até o destino que damos a ela quando não a usamos mais – pode contribuir para reverter a crise. O futuro do planeta está em nossas mãos. Vamos escolher conscientemente e dar à moda um novo significado: o da sustentabilidade, do trabalho digno para as pessoas nesse setor e respeito ao meio ambiente.




 Consultoria e Revisão: Arthur Barbosa

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