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ALASKA

  • Foto do escritor: Noëlle Francois
    Noëlle Francois
  • 26 de mai.
  • 6 min de leitura

Atualizado: 18 de jul.


Alce do Alaska

Que tal se aventurar pelas terras indomadas, se perder no silêncio das geleiras, ver ursos pescando nos rios e contemplar uma natureza de alma soberana? Alasca, aí vamos nós! 

 

Por ser destino de acesso remoto e paisagens espalhadas por longas distâncias, a decisão mais acertada foi explorar o Alasca de navio. Assim, evitaríamos o vai e vem cansativo de aeroportos e conexões. Cada dia começava com um novo cenário na nossa janela.  

 

Ao despertar, já estávamos no lugar certo com passeios prontos para nos conectar à natureza selvagem. À noite, após um jantar aquecido por boas conversas e sabores locais, bastava deixar-se embalar pelo balanço suave das águas enquanto, silenciosamente, o navio nos levava rumo a mais um pedaço do desconhecido. 

 

Como era de se esperar, eu estava ansiosa, não queria perder absolutamente nada! Preparei minuciosamente a programação, cuidando para não deixar escapar nenhum dos preciosos encantos que o lugar guardava. O embarque aconteceu no final da tarde, em Vancouver, no Canadá. Após as instruções de segurança, indispensáveis para viagens de navio – Titanic que o diga –, e já instalados em nossa cabine, saímos para explorar aquele que seria nosso novo lar flutuante. À noite, mergulhados no breu absoluto, não víamos nada no horizonte, apenas o imenso vazio.  

 

O dia mal clareou, corri para sacada dominada pela curiosidade. Onde estávamos? O que vi me deixou em estado de choque: um nascer do sol de delicadeza indescritível, banhando uma paisagem de beleza quase intocada. Era como se o mundo tivesse parado só para que eu pudesse contemplá-lo naquele instante. 


Nascer do sol no Alaska

 

Nossa primeira parada foi na pitoresca Ketchikan: cidadezinha conhecida pela rica cultura indígena, abundante vida selvagem e, claro, por seu título orgulhoso de "Capital Mundial do Salmão". As esculturas de totens coloridos espalhadas pelas ruas refletiam a herança dos povos Tlingit e Haida, enquanto a localização privilegiada, entre estreitos e selvas, completava o cenário de cartão-postal. 


Urso do Alaska

Mas vamos ao que realmente interessa: ursos! O dia era dedicado a eles. Confesso que, de tanta ansiedade, mal consegui pregar os olhos na noite anterior. Como tudo por lá exige longos deslocamentos, mais uma vez embarcaríamos numa jornada — desta vez, em um pequeno avião monomotor — até o habitat natural desses seres guardiões de florestas. 

 

Estávamos prontos para a decolagem quando o piloto nos deu a notícia: passeio cancelado. A forte neblina impediu a autorização para levantar voo. Sério? Custava acreditar! Eu, que estava sonhando em ver centenas de ursos, agora via meu sonho ser adiado pela força da natureza. Mas quem não tem cão, caça com gato. E foi assim que improvisamos. 

 

Optamos por explorar o parque nacional ali perto. Depois de uma boa caminhada pela floresta úmida e silenciosa, veio a recompensa. Lá estava ele, um urso brincalhão, caçando salmão bem diante dos nossos olhos. Frente a frente com aquela criatura sublime, fui tomada por um encanto absoluto. Nem pisquei. Cada segundo, um presente. No instante inesquecível, tive certeza da missão mais do que cumprida. 



  Se tem uma coisa que não faltou, foi encontros com animais dos mais diversos e fascinantes. Em Juneau, o dia inteiro dedicado a reverenciar as magníficas baleias. Em um breve trajeto de lancha, lá estavam elas, e nós hipnotizados por suas piruetas graciosas. O nado sereno e aquela cauda exuberante que surgia e desaparecia com elegância era parte de uma coreografia em meio ao cenário poético. Do meu lado, o biólogo Jack narrando com entusiasmo cada detalhe sobre esses mamíferos. Navegamos por horas, mas para mim passou na velocidade da luz. 

 

E como a natureza parecia disposta a nos impressionar, ainda encerramos o dia às margens de um rio (cujo nome, confesso, me escapou por completo). Lá, outro espetáculo: centenas de salmões nadando livremente, cumprindo seu ciclo de vida em um ecossistema vibrante. Foi mais uma aula, agora sobre resistência, instinto e renovação. 

 

O capitão parecia adivinhar que precisávamos de uma pausa. No dia seguinte, o navio permaneceu em alto-mar. Nada de atracar, nada de correrias. Era o tão esperado relax day! E que maneira incrível de desacelerar. Participei de um seminário com os esquimós – ou melhor, os inuítes – povo indígena que habita as geladas regiões árticas do Alasca. Verdadeira imersão cultural que, além de fascinante, nos convida a repensar nossos valores, rever muitos conceitos. E cá entre nós… um esquimó ali, diante de mim, contando suas histórias. Eu? Em estado puro de "me belisca pra ver se é verdade!".  

 

Mas o dia ainda guardava mais uma surpresa. À tarde, outro seminário. Desta vez ao ar livre, regado a vinho quente na proa do navio. Estávamos prestes a entrar em um santuário: a imponente região dos glaciares. A imensidão arrebatadora. Enquanto os especialistas explicavam sobre a geologia e o ecossistema local, todos, sem exceção, estavam hipnotizados pela beleza ao redor. 


Bloco de gelo despencando

 

E como num roteiro de cinema, algo colossal aconteceu: um enorme bloco de gelo se desprendeu da geleira e despencou no mar. O estrondo! A onda que se formou, tudo se desenrolou diante de nós como em câmera lenta. Um espetáculo da natureza… que também carrega um alerta doloroso. O colapso não era apenas um evento natural, era um grito; sinal claro de que o aquecimento global, fruto do descaso humano, está dissolvendo lentamente maravilhas como essa. 


Trem no Alaska

 

Chegamos em terra firme. Em Skagway, o dia prometia aventuras radicais. Embarcamos no trem, daqueles parecidos dos filmes de faroeste, cruzando desfiladeiros e túneis de madeira antigos. Durante quarenta minutos, serpenteamos por entre montanhas e penhascos em meio a um cenário de tirar o fôlego. O destino final era um lago alpino de águas cristalinas, onde nos esperava mais uma experiência:  explorando suas belezas a bordo de caiaques. A cada remada, surgiam novas paisagens, reflexos perfeitos, silêncios profundos, a pureza intacta da natureza. São momentos assim que tornam únicas as viagens e deixam marcas eternas na memória. 

 

De volta ao vilarejo, um pequeno passeio pela redondeza. O frio convidava a buscar refúgio em um dos cafés locais. Nos aquecemos com um chocolate quente, nos deliciamos com as iguarias regionais.  

 

Última noite a bordo. Hora de se despedir do cruzeiro e da tripulação que tornou a viagem simplesmente inesquecível. Foram dias intensos, repletos de descobertas, paisagens deslumbrantes e encontros marcantes.  

 

Calma, a aventura ainda está longe de acabar! Agora seguimos por uma nova etapa – e que etapa! Embarcamos no lendário trem GoldStar, conhecido por proporcionar uma das experiências ferroviárias mais panorâmicas do mundo. Seu vagão envidraçado, de janelas que se estendem pelas laterais e todo teto, nos envolve completamente na paisagem, como se estivéssemos viajando dentro de um documentário ao vivo. 

 

Durante horas, somos presenteados com cenários de tirar o fôlego. Montanhas nevadas gigantescas, glaciares imponentes, lagos cristalinos e florestas densas. Tudo pensado para que nenhum detalhe da natureza intocada do Alasca passe despercebido.  

 

Próxima parada: Anchorage. Uma pausa bem-vinda para recarregar as energias, respirar fundo e se preparar para os próximos capítulos dessa expedição. 

 

Na última etapa da viagem, nosso destino foi o Parque Nacional e Reserva Denali, lar do monumental Monte McKinley – também conhecido como Denali – o ponto mais alto de toda a América do Norte. Um verdadeiro templo da natureza selvagem, com paisagens que mais parecem pinturas. 


Alces no Parque Nacional e Reserva Denali

  Agora, a missão era clara: binóculos em punho e olhos atentos. A meta? Avistar alces. E não foi difícil. Por todos os lados eles surgiam, corpulentos, altivos, com seus chifres impressionantes desenhando silhuetas poderosas na paisagem. Um espetáculo que nos lembrava, mais uma vez, da grandiosidade do mundo que ali se revelava, em sua forma mais pura e esplendida. 


Cães de trenó na corrida Iditarod

 

Fechando nossa odisseia com chave de ouro, não poderia faltar uma visita aos cães de trenó, protagonistas da famosa corrida Iditarod. Essa competição anual de longa distância atravessa o Alasca, partindo de Anchorage até Nome, em um percurso de mais de 1.600 km. É uma prova extrema de resistência, tanto para os mushers (condutores dos trenós) quanto para os cães que enfrentam condições climáticas brutais. 

 

Mas para mim, que sou uma defensora dos animais, essa visita teve um gosto amargo. Por trás da mística da corrida, existe uma dura realidade que não pode ser ignorada. Organizações, como o PETA, denunciam o tratamento desumano imposto aos cães que, muitas vezes, não sobrevivem até o fim da competição. As temperaturas podem chegar a inacreditáveis 50°C negativos – frio tão intenso de congelar vidas. Mushers relatam a formação de gelo sob a pele e a morte silenciosa de cães, sem que haja o que fazer. 

 

A corrida, embora tradicional, é alvo de fortes críticas. E com razão. Encerrar a viagem ali, diante daqueles olhos que já correram demais, foi um lembrete incômodo: nem toda tradição merece aplauso. Algumas precisam ser repensadas com compaixão, coragem e responsabilidade. 


Noëlle no Alaska

 

E assim, repletos de memórias, chegamos ao fim dessa jornada na terra de contrastes intensos, onde a natureza reina em sua forma mais plena, bela e, por vezes, brutal. Vi baleias dançarem no mar, alces imponentes cruzarem meu caminho, urso solitário, glaciares ruírem diante dos meus olhos e cães puxarem histórias de resistência e dor. 

 

Foram dias de encantamento, descobertas e questionamentos profundos. Porque viajar não é apenas colecionar paisagens, é permitir que elas nos transformem. Que nos confrontem. Que despertem, em cada passo, mais empatia, consciência e mais respeito pelo planeta. O Alasca ficou para trás, mas a experiência… essa levo comigo. Está guardada na alma. 




Consultoria e Revisão: Arthur Barbosa


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